quarta-feira, 26 de novembro de 2008


Menina de asas
Vida nova: um estampido, o estalo.
E tudo muda.
Um passo, o sopro.
E é tudo novo, de outro jeito.
Novo que assusta, encanta, desconstrói.
Passo que é lento, sossegado, sem sede.
Há tempo neste horizonte azeite em que me demoro
e esteio para um vôo raso e ousado.

É momento de revirar gavetas;
Despir culpas e desculpas;
Subverter a minha própria ordem;
Desacostumar qualquer conforto;
Submeter o medo à clareza de novas esperanças;
Amanhecer surpresas com pés na lua e cabeça nas estrelas;
Abrir o peito, fechar a guarda, despregar as asas... e ir.

domingo, 9 de novembro de 2008



Sentir amor

Dia desses, lá ia eu para a terapia e pensei em você. Senti uma pontinha aguda de saudades.
O sol ia nascendo, o ônibus em movimento, pessoas que iam ficando para trás, eu olhando pela janela e ouvindo música no MP3.
A emoção foi pouco a pouco cessando, mansamente.
Naquele momento eu fiz uma escolha. Decidi dali por diante não sentir dor ou saudade.
Percebi o coração ficando grande e parecia que uma luz morna ia se esquentando.
Senti um aconchego e uma alegria singulares. E um texto foi saindo naturalemnte, mais ou menos assim:

Abandonei aqui a saudade, a tristeza, as memórias.
Hoje, apenas sinto.
Desliguei os acontecimentos, as mágoas.
Hoje, apenas sinto.
Acordei da saudade doída, de algum vazio.
E hoje apenas sinto.
Ficou para trás a paixão, o encanto varrido, doido mesmo.
Hoje, apenas sinto.
Escolhi sentir amor.
Um amor que está dentro de mim. Amor que sou eu.
E é imenso, colorido, profundo, vivo, voraz.
Tão melhor sentir amor, ouvir o amor sentindo.
Em vez de padecer de uma saudade melancólica e chovida, decidi ser feliz pelo simples fato de saber que você existe. E isso me trouxe vento fresco, como se uma lufada de entendimento me soprasse por dentro e tudo foi ficando cada vez maior.

Sabe, esta é uma escolha pelo que há de plural em mim.
Ato consciente pelo que me faz mais forte, mais feliz e grandiosamente mais simples.

Toda vez que a vontade de doer vem, eu fecho os olhos e deixo o coração ir crescendo.
E o sol amanhece, os pássaros cantam, as flores balançam, o vento sopra, a campainha toca, tudo se move sem que você sequer desconfie disso.
É a concordância muda do universo, abençoando a sabedoria de caminhos novos, de novos jeitos de sentir amor.

sábado, 25 de outubro de 2008


Primeiro ensaio sobre a liberdade

É bom ter chegado aonde cheguei. No ponto exato onde me dou ao luxo de escolher os meus amigos.

Quando criança a gente vai se encontrando meio por acaso e se deixando ficar. Há os vizinhos, os colegas de classe, os primos e seus amigos. Daí, a gente cresce um pouco e novos amigos de escola e faculdade, outros vizinhos; e a gente continua crescendo. Aqui, já passamos por mudanças de rua, casa, cidade, amores, trabalho. A vida se faz realmente nova, e as idéias e crenças já se perturbaram o suficiente para serem abandonadas e substituídas por outras. Começamos a experimentar alguma flexibilidade por dentro e por fora; são apenas nuances.

O mundo se descortina. O bem e o mal estão diante de mim. Confronto. Dói descobrir que os super heróis e os superamigos passaram. Mas, é glorioso descobrir nosso próprio heroísmo e estudar nossa própria capacidade de ser e ter amigos, que não precisam ser super, apenas serem de verdade já está bom.

Olhando para trás, sinto saudades dos amigos do passado, das travessuras, dos encontros, dos sonhos. Mirando para frente, sei que virão outros fantásticos, mas poucos serão confiáveis por certo. Respiro fundo. Neste minuto em que observo o agora sinto-me grata. Hoje, estou rodeada de pessoas singulares; a quem posso chamar orgulhosamente de amigos ou companheiros de jornada. Eles são bem poucos, é verdade. Minha meia dúzia mais cara de todas. Aqueles a quem posso me mostrar como sou sem medo, porque sabem olhar a si mesmos com coragem e relevam as minhas falhas porque acolhem as suas próprias; e não nos queremos perfeitos, não. Apenas nos queremos juntos.
Este é o conforto do qual não abro mão hoje. O saber-me envolvida por semelhantes, errantes, caminhantes. Que persistem um brilho no olhar, um riso à toa e aquela felicidade boba que só a gente reconhece.

domingo, 19 de outubro de 2008

alma navegando


A chuva.
sua abundância me fala de segredos escondidos
dos tantos mundos e todos os modos de os ver e compreender
meus sentidos mais agudos e mudos neste momento eclodem
nenhuma chuva os ameniza ou apaga
o fogo é dentro e não queima, apenas muda
É, sim, este o tempo da mudança. A minha, tão pessoal, tão singular e
por isso mesmo verdadeira

Agora é noite e eu me lanço
há um abismo abaixo de meus pés e eu o desafio
lançar com desapego e esperança
esse meu vôo de há tempos esperado.
Uma tal certeza que transborda e eu champanho
para o mundo, para mim, para tudo o que me cerca
Menos teoria e mais sentimento é a minha lei.
Há que fazer sentido o caminho que toca meus pés
pois o que toco é ouro.
Coração é sagrado, suas dores e festa
É a minha identidade, única, diamante.
De repente tudo à minha volta tem mais cores, cheiros, volumes...
De repente todos estão seguindo a sua própria tirania em busca de sua liberdade
e eu simplesmente entendo.

Há uma dança secreta dançando o tempo todo em ciclos, sobrevoando nossas cabeças
e estamos cegos, entorpecidos.
Os desejos coexistem com a satisfação simples de ouvir as gotas da chuva no telhado,
o vento fresco fazendo cócegas nas folhas, um olhar amigo na hora certeira da dor e uma luz calorosa que vejo vir vindo de muito longe, de tempos.
Um encontro. O silêncio que faz o meu espírito se entregar sem reservas em meu colo e descansar dos medos e quimeras.
Parece eternidade, ainda que seja por um curto espaço de tempo, mas agora o sinto como a minha imensidão.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Aquilo que ouço é o que o vento me conta
Das travessuras de nuvens e folhas
Do verde que nunca sucumbe à fumaça
Da seiva que luta contra grades e cimento
Meu horizonte é todo sol e azul, como o meu sorriso
Acordar com a manhã é o presente que me outorguei
E com ele, maçãs são mais suculentas, luzes mais intensas, vôo mais profundos e
Horas todas cheias de significado.
O segredo está em mim.
E eu, cada vez mais perto da descoberta, caminho.
Escolher novas trilhas, novos pés, novas rimas para lágrimas e risos.
É todo e tudo. E nada deixa para trás poeira e saudade.
Inauguro o hoje com meu sorriso largo e um olhar cintilante.
E mares seriam poucos para o tamanho dos meus abraços
E terras faltariam para onde meus pés encaminham o dia
E coragem é farta para um passo arriscado
Hoje há tanto desse amor por dentro que eu batizo o que começa com o que em mim transborda e é aqui a minha letra.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Respostas

Deus.
Está aqui, ao meu lado.
Na lua espreitando o dia;
No calor que me traz sede;
Na areia fofa que é meu chão;
No horizonte azul-e-vento que avistei daqui;
No vôo, nas asas.
Deus é essa certeza viva de que estou pronta e não estou só jamais.
Deus é o encontro com o meu próprio silêncio.
Estar de volta ao meu templo
O sagrado momento em que finalmente sou eu de volta, à tona, forte, serena, raiz.
Deus é o meu altar em mim
Quando entendo o meu próprio sentido e respeito minha cadência.
Deus é a volta da minha fé. Do meu olhar e do abraço doce que me envolve e guia.

Esta paz criativa que eu sinto neste instante tem o nome de Deus.

Aprendendo


Revolver a terra...
desmanchar as conformidades
acordar passados e medos
soprá-los para fora e deixar a terra fofa
Futuro carece de espaço
E eu cavo o tempo para o novo
O que virá é incerto, e a felicidade me alcança aqui, agora
No exato instante da dúvida,
Revolvendo a terra velha;
O que me construiu e agora já não é.
Eu sou o hoje agradecido pelo que foi
sem aguardar o amanhã, pois me descubro sem pressa.
Para quê?
Por que, afinal, corremos tanto se ao findar o dia eu posso deitar com a lua e amanhecer solzinho caloroso?


- pensamentos enquanto ajeitava o jardim da minha casa.

eu...odara

Banho de mar é de chuva deitada
Nuvens cinzas no céu avisam,
e eu nem escuto e prossigo

Vem a chuva. A mais macia de todas.
A mais feliz.
O mar e seu silêncio escondido nas ondas.
Deixo-me invadir por essa quietude respeitosa, farta e eterna.
Ela é só minha.
O vento me sopra para dentro de mim outra vez
E agora é tudo fresco; saúdo todo essa celebração de vida

Sou grata pela festa que é o nascer dos dias por aqui,
pelas lições mudas que sal e sol me entregam de repente.
Sou feliz por todas as coisas que serpenteiam no céu para me avisar
que há divindade em tudo e em mim também.

Sou odara.

desaniversário


Foi a festa.
Cinco meses depois do bendito dia, lá estou eu: apagando velinhas junto à minha família amada, baianíssima, recheada de felicidade e do amor dos que mais amo.
De fato, adoro fazer aniversários. E escolhi ter vários ao ano, pois como dizia meu amigo Argolo "eu não sou obrigada a ser simples". oh, yeah!
Desaniversariar foi um ritual cheio de significado.
Um novo marco nessa travessia de tantas transformações por que tenho passado. E mais e mais vejo que só me têm feito bem.
O que reclamar se a vida tem me dado esteio e a Bahia, graças a Deus, régua e compasso?
Salve, Argolo!
;)

domingo, 6 de julho de 2008

olhos cor de azeitona

Os olhos do Daniel eram cor de azeitona
e me acenavam com um olhar envergonhado de criança
descoberta em sua existência silenciosa
seus olhos conversavam com o meu sorriso
que ele fingia não ver, escondendo a cabeça.
Sua mãe parecia envolta em pensamentos duros, a boca cerrada, olhos vagos caçando pela janela algum motivo para sair dali.
eu e Daniel continuamos a nos conhecer por aquele código simples que há no universo das crianças:
a gente olha para elas e elas escondem o rosto
a gente sorri para elas que fingem não perceber
a gente continua rindo e o seu coração vira roda-gigante
elas riem, acenam, mostram os poucos dentes e viramos amigos de sempre.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Catavento

O vento me atravessa assim como a neve.
Eu escuto o crepúsculo
E a Terra pulsa lentamente.
Ouvir o coração é compreender tudo.
E, no fundo, tudo é macio.
Há tantos seixos rolando na trilha que esqueço o fundo onde tudo acontece.
Meu coração girou com a força de mil sóis e os olhos, farol de onde a alma acena, viraram mar.
O oculto também me integra e trespassa, me entrega fresca, nova, viva, germinada.
E o vento?
Ah, o vento... me atravessa outra vez.

(24/05/2008) sobre uma deliciosa expriência de silêncio

segunda-feira, 16 de junho de 2008


Sagrado

Espaço onde eu habito
Momento de cada coisa
Existindo pela dádiva do Todo. Todo... a quem devo reverências sem-fim
A guerra toda é o peso que insisto
E quando dele desisto, findas são as trincheiras.

É mágica a resposta silenciosa de tudo ao meu redor.

Deus...
Soprou sua folha amarela, sábia... E ela pousou sobre meus pés com tamanha gentileza!
Eu a aceito.
Este é o meu presente.
Encontro singular, inteiro, cheio de significado.
Eu transbordo.

Um abraço sagrado de há tempos.
Sinto-me plural.

As respostas que ainda me faltam não ardem mais;
E as perguntas deixam de fazer ocos para me fazer sorrir.



Este textinho foi criado em um dia mágico, completo. quando pude ouvir o som que mora nas asas das borboletas... (22/05/2008)

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Adultice


é quando já não temos curiosidade de saber como está a lua hoje.
é quando todo riso precisa de uma explicação "plausível".
é quando os chatos parecem tão simpáticos.
é quando não dá mais pra rolar com o cachorrinho pelo quintal porque afinal: 'o que os vizinhos vão pensar?'
é quando a chuva é o ponto final daquela chapinha.
é quando cantarolar pela rua parece coisa de gente pirada.
é quando o nascer do sol não é mais do que o começo da labuta.

Tem quem sofra de adultice crônica ou quem padeça apenas de uma virose breve. Em ambos os casos, isto faz mal e não faz falta nenhuma. Se você encontrar alguém assim por aí, receite uma dose concentrada de riso frouxo, nonsense mesmo, boa leitura, imaginação livre, boas companhias.Tenho aprendido que ser adulto pode ser até bem divertido sem carregar tanto na tinta, com sapatos mais folgados, amigos mais leais, objetivos mais humanos e a certeza de que a vida é um presente diário e tem sempre as cores dos óculos que eu visto.

Novidade

Depois de muito adiar, resolvi mudar de cara. E como tudo tem a hora certa nessa vida, este blog novo é meu sinal mais claro de transformação e novidade.
Nova fase de vida, me sentindo re-nascer com 30 anos brindados de crescimento. Sim, Este é o meu aniversário. Roda Baiana é fruto disso, dessa inauguração de mim. Rodar os meus ciclos, altos e baixos, dentro e fora, vezes rasos, muitas vezes fundo... sem perder essa baianitude que me abençoa o espírito (saravá!) caloroso-girassol, salgado-mar, quente-pimenta, colorido-catavento, livre-brisa e saboroso-vida. E uma dose aqui e ali de rabujice que é pra aprender a rir de mim mesma.
Sejamos todos bem-vindos. Namastê!
:)