sábado, 29 de agosto de 2009

Ando meio desligada

Nessa última semana levei um susto. Ia para o trabalho, desci um ponto antes para tomar café na padoca legal da esquina. Desci do ônibus, parei no farol (estava vermelho), ele abriu e eu avancei na frente dos carros. No meio do caminho, eu me dei conta da loucura e já era tarde, corri feito louca para o outro lado da avenida ouvindo buzinadas desaforadamente merecidas.
Chegue do outro lado lívida: hã? Que foi isso? Mãos trêmulas, coração acelerado.
Final do dia fiz a mesma coisa de novo.
Engraçado porque sou até meio medrosa para atravessar ruas em São Paulo. Tanta gente lelé da cuca...
Enfim: dois sustos no mesmo dia querem me dizer alguma coisa que agora me escapa.
Só ficou uma certeza: ou vaso ruim não quebra mesmo e eu sou um da porcelana mais chinfrim; ou meu anjo da guarda não faz nem hora de almoço pra tomar conta de mim.


Os moços. Eu confusa ou eles doidinhos?
Os moços. O que querem de mim? Não se sabe.
E eu: o que quero deles?

"tudo o que quer me dar é demais, é pesado, não há paz..."

Muros nossos de cada dia

Ela não me disse o que pensava. Ele me disse o que achou que ela devia ter feito, mas não disse a ela o que pensava. Ela pensou outra coisa que não disse. Falou de outro jeito o que pensou. Pensou melhor depois. Deveria ter dito?
Ele não pensou em nada. Falou o que entendeu, de um jeitinho polite.
Eu não entendia nada.
Ela falou o que lhe ditou a pressa. O medo fez ele responder de pronto. Ninguém pensou em nada. Só existia sede.
Ele apressou todo mundo. Todo mundo apavorado sofria em silêncio.
Um chope estalou gelado na gargante sufocada.
Ele não sabe o que ela pensa. Ela na ouve o que ele diz. Ela escuta? Ele percebe?
O muro está ali. Todo mundo subiu nele.
Escuta: tem alguém aí embaixo? Me tira daqui.

Saldo do dia

Diazinho de um sol adorável, céu azul, levantei cedinho para ver imóveis; e a caçada continua.
Achei que seria mais fácil, mas no fundo sabia que ia me custar muitas pernadas.
A busca é longa, vem de longe. Acho que desde quando saí da minha terrinha quente.
Hoje eu já encontrei um montão de coisas: pessoas diferentes, hábitos, luas, ruas, jeitos de falar, jeito de não falar, meu cachorrinho, outros bichos e bichanos que coloriram o meu caminho até aqui. E um terreno desconhecido que se avizinha.

Outro dia meu coaching me falou que eu devia não ter tanta ansiedade e aprender a curtir o tempo dessa busca.
Agora entendo que ele tem razão. O durante, sempre tão importante de entender.
Eu venho batendo na trave: acho o imóvel. ele é bom, agradável, cabe no bolso esgarçando bem, mas sempre tem um fulaninho conhecido de não sei quem que chegou na frente. Três casos. Mesmo final feliz: pra eles!
entendi o recado: estou quase lá. Só faltar deixar o peso, pegar a pipa, erguer o braços e soltar os nós.
Hoje pensei seriamente em voltar para as sessões de coaching :0) .

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Felicidade delivery


"Felicidade se encontra em horinhas de descuido"


Estava indo almoçar com o Rê. Lá na estação Ana Rosa, lembrei dessa frase do G. Rosa e do quanto ela representa pra mim. Era domingo, fazia um sol soteropolitano nesta terra da garoa, tive um papo-cabeça-filosófico-astronômico-apocalíptico antes de sair de casa, cabelinhos lavados e soltos à mercê de um vento preguiçoso e o coração era leve. O que poderia eu querer mais daquele bendito momento? Querer algo mais não combinava com um dia que já estava pronto para ser servido. Neste instante: o clarão. Olha aí a felicidade diante de mim: pura e simples, prontinha, delivery.

E o resto do dia foi dessa felicidade boba, rara, que só quem a testemunhou como eu pode entender. Aquela voz de menino aprendendo de si com o mundo ia ecoando, as árvores diziam "sim" com suas folhas e os olhos das gentes também. A música ecoada foi encontrando abrigo no coração, como um bálsamo, o único possível para um dia que já era perfeito. Um banquinho e um violão encheram de melodia o fim de tarde; simples assim, como a vida deve ser.