domingo, 27 de março de 2011

Vésperas



Às vésperas do aniversário eu gosto de voltar o filme e lembrar do que passou. Isso faz parte do meu ritual de honrar o tempo que me trouxe até aqui e agora.

Eu fico pra dentro, fazendo silêncio, limpando as vidraças.

Não foi fácil, foi preciso.

Doeu um monte, cortei cordas, emendei fitas, reatei laços, tirei uns nós e rasguei uns panos por aí.

Tudo importante. Tudo na medida.

Não pensei que seria possível dizer isso assim: mas agradeço a tudo o que passou e foi difícil e a tudo o que passou e foi maravilhoso.

A maior lição? Tudo, absolutamente tudo, passa.

E tudo, absolutamente tudo, tem seu preço. A gente decide quanto vale, se vale e vai na fé. Mesmo que ela seja pouca e a carne fraca.


Aprendi que do chão ninguém passa e que mora dentro da gente uma força gigantesca. Um poder louco pra ser descoberto finalmente e finamente utilizado.

Que tudo o que acontece lá fora é reflexo do que se passa cá dentro. Não tem outro jeito...

E que sempre haverá primavera e verão onde o inverno pisou.


E daí os novos horizontes vão chegando mansos, trazendo sua maré de novas chances, bons corações e grandes oportunidades. Pra viver tudo de novo, agora com mais verdade, com mais lucidez e muito mais força.


E acima de tudo?

Ah, com muito, mas muito mais amor pela vida, pelos seus movimentos sábios (mesmo que incompreensíveis) e uma confiança danada de grande de que tudo o que vier tem mesmo de vir pra fazer crescer. E a resposta é sim, eu topo.

vizinhança adrenalina


Desde que mudei de casa, ganhei vários presentes.

A vizinhança foi um deles. A boa vizinhança.

Mas, sempre tem os excêntricos de plantão, que meu ascendente aquariano já captou há léguas e fez o favor de atrair.


Um deles é um carinha cinquentão que anda de bicicleta infantil, com seus dois cachorros presos ao guidon por uma correntinha.

Pois é...


Esses dias, topei com ele na rua e veio o papo:

- Nossa, você está cheirosa!

- É. Sou menina, tomo banho, passo perfume... faz parte.

- Meu, eu tomei banho ontem de manhã.

Pensei comigo 'que nojo!', mas apenas comentei lacônica:

- Vixe!

Ele deve ter sentido que pegou mal e comentou:

- Mas eu me considero um cara limpo. Por exemplo, quando vou ao banheiro eu não uso papel higiênico. Eu me lavo. Fica tudo limpinho.


Eu preciso mesmo ouvir uma coisa dessas?

Humpf!

:/

domingo, 20 de março de 2011

Aberta a estação

Adoro passear e me deparar engrandecida com as folhas caindo, caindo, como peixes que mergulham mar adentro.
As folhinhas leves, amarelas voam sem destino, sem pressa, sem medo.
Me lembram de um sonho em que a minha mãe me presenteava com um passeio de pára-quedas. Como quem diz:
Se joga, filha. Vai fundo, coração adentro, pela vida afora e apenas confia.
No sopro do vento, no sabor da estação novinha em folha.
Folhas.
Varridas como meus sonhos doidos.
As asas que recebi em sonho.
É outono.

sábado, 12 de março de 2011

Novos óculos


Neste blog aqui a gente começa a resgatar tantas coisinhas miúdas do cotidiano, cheias de poesia, de beleza, de humor.

Nossa vida é assim: essa colchinha de retalhos dos detalhes, das supresas, dos sins e nãos, do vento e do beijo, do sono, do ombro, da panela, do filme, do ônibus, de tudo.

Eita essa vida nossa cheia de riqueza e delícia escondidas nas entrelinhas.

Novos óculos, por favor.

terça-feira, 8 de março de 2011


Tem gosto de chuva esse sorvete. Assim molhado.
Essa tarde que passeia na saudade. Esse meu peito.
É azeite aquele céu que se despede. O sol está nu.
Faz nuvem nessas coisas tão misturadas. Eu meio a meio.
É fonte o peito que me encoraja sempre e sempre. Minha alma.
Tem dedo dos céus nessa felicidade boba. Esse silêncio.
Esse meu riso à toa e sem palavra. Quem sabe?

terça-feira, 1 de março de 2011

Ritual do chá


Tem sido esses dias apressados. De uma alegria esparramada, de lágrimas honestíssimas e de algum cansaço.
Eu desejei muitas coisas para 2011 e elas tem religiosamente se concretizado, junto com outras igualmente felizes e não previstas no pacote.
Mas, para todo mundo, o tempo não pára, estamos todos com o botão vermelho de "urgente" aceso, mal a gente se percebe andando nas ruas, escadas e vagões de metrô. Eita esses tempos varridos!
E no meio dessa aceleração toda, às vezes a gente precisa ceder. Ao desejo de não fazer patavinas. Àquela vontade de se afundar no sofá por hoooooooras. Ao cuidado simples e cotidiano com a aparência e com a saúde. Ao silêncio, que é o melhor remédio que eu conheço para curar dores mal resolvidas (é assim pra mim).
Esses dias fui bater perna no shopping com minha amiga Mary. Ver vitrines, falar de roupa e cabelo, atualizar as fofocas dos últimos acontecidos e comer! Tanto eu quanto ela somos amantes de garfo e prato.

E depois de comer, comprar e papear: chá.

Tomei um chá de-li-ci-o-so. Daqueles de ir fazendo silêncio aos poucos.
Saboreando com calma, como um bom romance. A fumaça e a paz se misturaram ali, feito música e corpo numa dança. O perfume do chá e era já eternidade aquela tarde, aquela conversa, as risadas e os sonhos compartilhados, na mesinha de chá, nos acentos de couro maciiiiio.
Eis uma das coisas que eu curto muito: bebericar um chá enquanto sinto. Tudo. O mundo ao meu redor ou meu infinito de dentro. Chá tem um quê de colo de mãe: aconchegante, seguro, quentinho. E outro quê de espiritualidade: como que observando a vida devagar, sua essência e seus significados.

No meu chá, eu ergo um brinde: à amizade, às tardes eternas e ao aconchegante silêncio que me refaz.