sexta-feira, 22 de abril de 2011

Desacelerar

Ontem eu saí em busca de café com bolo, no finzinho da tarde.

Andando sem pressa e vendo o movimento das coisas e das folhas. Descobri uma cafeteria sensacional do lado de casa.

Sentei sem pressa, olhei as pessoas, senti os cheiros todos, as cores várias. Esperei.

Ia escolhendo o café pelo som das palavras no cardápio, e a torta pelo convite mais sedutor que cada uma me fazia.

Foi um fim de tarde sem mar e sol se pondo, mas foi tão lindo e tão rico quanto.

"Deixe que o crepúsculo o encha", disse certa vez Don Juan a Castañeda. E foi assim que me senti. Cheia de um sei lá o quê com tanto sentido e silêncio.

Encontrei as borboletas em seus mais variados vôos e ouvi a abelhinha brincando com uma folhinha de grama. Simples assim.

Estou desaprendendo a pressa. Aceitando que as coisas venham em seu tempo.

Um ensinamento taoísta fala que a natureza não dá saltos, meu coração sempre quis assim: tudo correndo. Agora, que fiz um pacto com a felicidade, de ir redescobrindo suas pistas, eu desapressei, desacelerei, e quero sabor. Qual o gosto do dia começando, qual o gosto da sua companhia, qual o sabor daquele desafio que me tira o sono. Só me dando tempo, só me regando de silêncio eu posso achar respostas.

Eu quero o sabor de vida costurada nessas breves descobertas cotidianas. Dessas suspresinhas que fazem a gente querer degustar momentos como eu degustei aquela fatia de torta: de-va-ga-ri-nho e por inteiro. sempre.

terça-feira, 12 de abril de 2011

vida de gente grande

Quando eu era criança, meu sonho era ser gente grande.
Poder escolher meus caminhos, poder trabalhar e ganhar minha grana.

Viajar e conhecer gente diferente. Namorar e morar sozinha.

Ser gente grande era sinônimo de independência. E até de desenvolvimento.

Gente grande não sente medo, mata a sede e sempre sabe o que fazer.

Eu devia ter meus sete ou oito anos quando pensava assim.

É, faz tempo.


Hoje eu já quadrupliquei essa idade e continuo achando que ser gente grande é bom negócio.

O que mudou?

Eu descobri que ser gente grande não tira medo, só se mata a sede se você reconhecer que ela existe - e isso às vezes dá um baita trabalho -, e saber o que fazer é a grande pergunta não respondida ao longo de uma vida inteira de cabeçadas. E o mais engraçado que consegui aprender até hoje - o que não é fixo, porque ainda estou crescendo -, é que o coração de gente grande carrega os mesmos sonhos que o de uma criança, só que com menos ternura. Vai entender...

E são esses mesmos sonhos que fazem a gente prosseguir em busca de um não-sei-quê que pode estar do lado de trás do arco-íris, do abraço de um amigo ou do colo de um afeto.

Ser gente grande é assim mesmo: dá um trabalho danado, mas é gostoso à beça.

:)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

mas o jogo ainda não acabou


Eu li hoje cedo, incrédula, que um garoto entrou numa escola do Rio de Janeiro e atirou a esmo ferindo muita gente. Eu vi muito comentário embasbacado sobre o que volta a acontecer no Japão. Eu escutei um comentário de que aquela escola ali na frente mais parece uma "delega".

Este é o mundo que construímos aos tropeços pra ir vivendo.

Triste!

Mas eu insisto.

Não em negar o que está aí, realidade obscenamente nua e crua.

Mas insisto em ver o sol raiar apesar de tudo. O olhar ter brilho apesar da fumaça. A mão afagar apesar da violência. O extraordinário acontecendo dentro da simplória repetição dos dias. E, mais, a certeza de que nem tudo está perdido. Não se desiste do jogo antes que ele acabe. Não se desiste de ninguém. Todos. Cada um é fundamental. O carinha trololó que puxou o gatilho, mesmo sendo insano, é da nossa família. Humana.

Triste?

Verdade. Obscenamente nua e crua.