sábado, 25 de outubro de 2008


Primeiro ensaio sobre a liberdade

É bom ter chegado aonde cheguei. No ponto exato onde me dou ao luxo de escolher os meus amigos.

Quando criança a gente vai se encontrando meio por acaso e se deixando ficar. Há os vizinhos, os colegas de classe, os primos e seus amigos. Daí, a gente cresce um pouco e novos amigos de escola e faculdade, outros vizinhos; e a gente continua crescendo. Aqui, já passamos por mudanças de rua, casa, cidade, amores, trabalho. A vida se faz realmente nova, e as idéias e crenças já se perturbaram o suficiente para serem abandonadas e substituídas por outras. Começamos a experimentar alguma flexibilidade por dentro e por fora; são apenas nuances.

O mundo se descortina. O bem e o mal estão diante de mim. Confronto. Dói descobrir que os super heróis e os superamigos passaram. Mas, é glorioso descobrir nosso próprio heroísmo e estudar nossa própria capacidade de ser e ter amigos, que não precisam ser super, apenas serem de verdade já está bom.

Olhando para trás, sinto saudades dos amigos do passado, das travessuras, dos encontros, dos sonhos. Mirando para frente, sei que virão outros fantásticos, mas poucos serão confiáveis por certo. Respiro fundo. Neste minuto em que observo o agora sinto-me grata. Hoje, estou rodeada de pessoas singulares; a quem posso chamar orgulhosamente de amigos ou companheiros de jornada. Eles são bem poucos, é verdade. Minha meia dúzia mais cara de todas. Aqueles a quem posso me mostrar como sou sem medo, porque sabem olhar a si mesmos com coragem e relevam as minhas falhas porque acolhem as suas próprias; e não nos queremos perfeitos, não. Apenas nos queremos juntos.
Este é o conforto do qual não abro mão hoje. O saber-me envolvida por semelhantes, errantes, caminhantes. Que persistem um brilho no olhar, um riso à toa e aquela felicidade boba que só a gente reconhece.

domingo, 19 de outubro de 2008

alma navegando


A chuva.
sua abundância me fala de segredos escondidos
dos tantos mundos e todos os modos de os ver e compreender
meus sentidos mais agudos e mudos neste momento eclodem
nenhuma chuva os ameniza ou apaga
o fogo é dentro e não queima, apenas muda
É, sim, este o tempo da mudança. A minha, tão pessoal, tão singular e
por isso mesmo verdadeira

Agora é noite e eu me lanço
há um abismo abaixo de meus pés e eu o desafio
lançar com desapego e esperança
esse meu vôo de há tempos esperado.
Uma tal certeza que transborda e eu champanho
para o mundo, para mim, para tudo o que me cerca
Menos teoria e mais sentimento é a minha lei.
Há que fazer sentido o caminho que toca meus pés
pois o que toco é ouro.
Coração é sagrado, suas dores e festa
É a minha identidade, única, diamante.
De repente tudo à minha volta tem mais cores, cheiros, volumes...
De repente todos estão seguindo a sua própria tirania em busca de sua liberdade
e eu simplesmente entendo.

Há uma dança secreta dançando o tempo todo em ciclos, sobrevoando nossas cabeças
e estamos cegos, entorpecidos.
Os desejos coexistem com a satisfação simples de ouvir as gotas da chuva no telhado,
o vento fresco fazendo cócegas nas folhas, um olhar amigo na hora certeira da dor e uma luz calorosa que vejo vir vindo de muito longe, de tempos.
Um encontro. O silêncio que faz o meu espírito se entregar sem reservas em meu colo e descansar dos medos e quimeras.
Parece eternidade, ainda que seja por um curto espaço de tempo, mas agora o sinto como a minha imensidão.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Aquilo que ouço é o que o vento me conta
Das travessuras de nuvens e folhas
Do verde que nunca sucumbe à fumaça
Da seiva que luta contra grades e cimento
Meu horizonte é todo sol e azul, como o meu sorriso
Acordar com a manhã é o presente que me outorguei
E com ele, maçãs são mais suculentas, luzes mais intensas, vôo mais profundos e
Horas todas cheias de significado.
O segredo está em mim.
E eu, cada vez mais perto da descoberta, caminho.
Escolher novas trilhas, novos pés, novas rimas para lágrimas e risos.
É todo e tudo. E nada deixa para trás poeira e saudade.
Inauguro o hoje com meu sorriso largo e um olhar cintilante.
E mares seriam poucos para o tamanho dos meus abraços
E terras faltariam para onde meus pés encaminham o dia
E coragem é farta para um passo arriscado
Hoje há tanto desse amor por dentro que eu batizo o que começa com o que em mim transborda e é aqui a minha letra.