segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009


Os Ipês

Minha relação com os ipês é de longa data.
Desde que vim morar em São Paulo, reparo muito neles, e os admiro. Seu brilho nos dias sombrios, seu balanço dengoso se estirando ao sol. Eles sempre estiverem no meu caminho de um jeito ou de outro. Ou, talvez, fosse eu que os perseguisse em busca de companhia.
Hoje, depois de alguns anos nos acostumando um ao outro, nossa relação é curiosamente divertida. Os ipês brilham para mim. É engraçado como consigo vê-los brilhar, dançar, quase sorrir. Eu sinto a felicidade nos ipês quando eles balançam soprados pelo vento.
Vejo suas asas multicoloridas, cintilantes, como se fizessem cócegas breves no céu carregado e o fizessem sorrir uma chuva boba que tira a seriedade da cara da gente.
Aliás, como andamos todos tão sérios pelas ruas dessa cidade, meu Deus.
Parece que carregamos um destino duro nas costas, implacável, que cava fendas nos rostos anônimos.
Acho que por isso resolvi ser amiga dos ipês. Porque eles estão sempre alegres, sorrindo, gratos pelo simples fato de existir.
Mesmo quando suas folhas e flores despencam, ainda assim eles são felizes e por isso busco suas lições mudas. Porque felicidade é um troço importante. Porque sem felicidade a vida é vazia. Porque eu tenho sede e é de significado, de múltiplos, embora simples.
Definitivamente ainda não sei ser simples, mas admiro aqueles que o são e de forma genuína, sem hipocrisias hostis.Talvez eu nunca venha a ser completamente, mas é hoje um desejo de futuro.
Presente mesmo é com os ipês: sorrindo colorido para um dia ensolarado ou cinzento, pouco importa. O que vale são as escolhas, as nossas, diárias, aquelas que nos possibilitam mudar o tom do discurso, o rumo da prosa, o final do dia, o calor da hora. O caminho.
Escolha antes de tudo por si mesmo, pelo fato de amar a si, como é: inteiro; raízes e copa; luz e sombra; certo e duvidoso. Nem um nem outro. Ambos. Igualmente importantes e necessários ao equillíbrio.
E na lição muda dos ipês eu me demoro. Na sua capacidade simples de conciliar o baixo e o alto, sem dúvidas abismais e com uma aceitação íntima, aquela que só se sente quando está em sintonia com O Algo que une todas as coisas no universo, que dá sentido ao nosso existir e que deve nutrir por todos os seres um amor gigantesco, pois que a tudo harmoniza, vitaliza e liberta, sem exigência sequer de que disso nos demos conta.
Os ipês me ensinam a ser grata por sua beleza, pelo belo que há em todas as coisas.