terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Roda baiana gigante


É isso aí, meu povo bom: a gente cresce todo dia, apanha, aprende, sofre, levanta, dança e sorri de tudo isso.

"É a vida acontecendo", como me disse uma amiga outro dia.

Uma vezes lá em riba, outras cá embaixo.
Sobe e desce de humores, experiências e conclusões.
Eu sou mestra em ansiedade e tudo eu concluo bem rapidinho.
Depois eu me arrependo, repenso tudo outra vez - sim, tenho mercúrio retrógrado e preciso ir e vir um sem número de vezes porque faz parte da minha natureza-, faço novas histórias, desfaço e lá vou eu.
Depois vem lufada de vento e onda forte, tudo ao mesmo tempo.
Pera lá 2009 que o andor é de barro e eu só estou no começo da jornada, mizifi!

Este foi um ano especial porque me trouxe olhos mais abertos e espinha ereta. Precisei respirar umas cem mil vezes, suei frio e tive ganas de descer do brinquedo. Mas, eu também tenho a força e graça não haveria se desistisse na primeira rodada.

Fui, vi, vivi, ri de mim mesma e me tornei mais eu ainda. Nessa roda gigante, baiana e ariana, girei e cresci.

O fôlego ainda vou refazendo entro um banho benfazejo e outro.
Aqui olhando o mar, meu melhor travesseiro, as histórias escorrem, desfazem e tudo vira onda que arrebenta na praia e vira espuma...

Ah, mar que em mim é rede, o silêncio esperado e o repouso que me alimenta como nada além, louvado seja!

Odoiá...

domingo, 22 de novembro de 2009


Quando o meu caminho encontrar o seu caminho, caminharemos juntos.
Quando o meu caminho se perder do seu caminho, estaremos novamente sozinhos um do outro.
Quando o meu caminho e o seu caminho são dois, estaremos ainda juntos?
Estaremos sozinhos? Estaremos faltando um pedaço?
Quando caminhamos juntos, parece que há mais força e mais coragem.
Quando os caminhos se perdem, tudo soa mais frágil e lento.
Existe caminho melhor ou pior?
São sombras as dúvidas que se engalfinham com o prazer e a esperança.
Nuvens que desfazem o sonho, feito sopro de vela.
Meu barco e o seu?
Seu caminho ou o meu?
Haverá dois?
Será tudo uma coisa só com nomes diferentes?
Não sei.
Não acho respostas.
Vejo as sombras que cobrem o dia claro. E elas são nuvens.
Elas passarão pelas minhas asas frescas e poderão mesmo me ameaçar, mas alçarei vôo ainda que lute solitária contra o vento.
Vai chover?
Sinto dia nublado no peito.
Incógnito
É quase como sentir tristeza, mas não há dor.
Um fio de água escorrendo rio abaixo e sem pressa.
Eis o barulho da água seguindo o curso.
O seu caminho. Nem meu, nem seu.
Apenas um caminho necessário para saciar a sede.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009



"Quando você acha que encontrou todas as respostas, a vida vem e te faz novas perguntas."

Quando a gente acha que superou todos os medos, a vida traz novas surpresas.

Quando você sente que o território já está garantido, a vida puxa o seu tapete.

De repente, você está nu: com novas perguntas, muitas surpresas e sem porto seguro.

O que parece desesperador, na verdade é apenas um sinal amoroso.

Da vida, que jamais desiste da gente. Que sempre acredita que há mais amanhãs e horizontes.

Para quem a trégua é só um copo d´água, fôlego e estrada nova.

Agradeço porque a vida apostou em mim. E eu aceitei.

É bom me ver amanhecendo, espreguiçando junto com o sol o sono e a sombra.

Caminhar como quem voa: com ar e esperança. Rindo à toa, feito as nuvens bobas. Todos somos nuvens; ricos em forma, mas sempre tão passageiros que nada há para agarrar.

Vida onde tudo é sopro...

A ti eu ergo um brinde: que o breve e o eterno continuem esse caminho que nos recorta, ensina e guia.

Nada a perder, tudo a aprender.

Esta é a minha vida.

domingo, 25 de outubro de 2009


Hoje escutei o canto dos pássaros e ele era diferente.
Conversei com a lavanda que cresce no quintal e ela cheirava um novo cheiro.
O pão com manteiga que eu comi tinha um outro gosto.
No banho de ervas, o verde da vida inteira estava presente.
Uma vela iluminava meu coração à tardinha e a lua era outra.
Ouvi a melodia suave no radio e a música era nova para mim.
Quando tudo o que é comum vira novidade, é porque uma nova vontade foi instalada e a vida, remoçada,
agradece com novos óculos de ver.

:-)

domingo, 18 de outubro de 2009

dias novos
de emoções sortidas
com tantas pessoas e matizes.

dias cheios
tanto por fazer
e falta tempo

dias confusos
de sol e chuva,
mentiras e descobertas,
vaias e aplausos.

dias curtos,
dias intermináveis,
dias inesquecíveis.

dias de sonho e desejo
dias que viram noite
e ardem

dia de conversa séria
outros de conversa fiada.
dias de não dizer palavra.

Dias: nossas pequenas fronteiras cotidianas.

Carregue a mochila de sonhos novos, cores na paleta, braços firmes,
olhos vivos e um coração no meio de tudo isso.
Nossas pequenas fronteiras nos lembram que a vida prossegue.
Você, também: prossiga. Caminhe ainda que falte o ar ou a fé.
Siga. Os trilhos da coragem são mesmo dificeis, árduos, mas essenciais.

Beba um pouco de água na próxima curva, mas não pare.
Suba, erga-se sobre a estrada, como um gigante, como o tamanho do sonho que te desperta.
Como o hálito da madrugada que se derrama sobre o horizonte.
Derrame, assim, você também as tuas poucas palavras, o teu traço, o teu passo.
Sua pequena verdade.
A única que pode ser só tua.
E reconstrua tudo se for preciso.
Comece do fim ou do zero. Mas, vá.
Fronteira após fronteira, costurando o sentido da tua busca, achando e perdendo respostas.
Dia após dia.





sábado, 3 de outubro de 2009



Quando as fichas caem

a ligação fica mais clara entre ontem e agora;
o coração fica mais leve;
dói pra caramba porque...putz, dói;
é melhor para todo mundo;
a gente respira fuuuuuundo;
ou pira mesmo;
a gente acha um baú de respostas que estava enterrado dentro do espírito;
tudo é claridade;
o que foi e o que é fazem as pazes;
o tempo ganha um outro significado;
a gente aprende a agradecer;
dá para sacar que a vida é tão maior do que esse bocadinho que percebemos dela;
o horizonte é imenso e a compreensão alarga...
as pessoas que você conhece começam a fazer mais sentido;
aqueles que você deixou de conhecer também;
a ponte entre você e eu diminui;
o espaço entre a voz e o silêncio é muito maior;
faz bem pra alma.

Bom mesmo é que a gente só entende que uma ficha caiu porque a gente cresceu.

domingo, 20 de setembro de 2009

É primaveeeera...
Sim: está chegando! Terça, 18h36 mais especificamente.
Sol em libra, renascimento da vida, do calor, da esperança.
Eu adoro a primavera.
Talvez porque os ipês e as cerejeiras fiquem ainda mais viçosos.
Talvez porque o dia ganhe mais graça.
Talvez porque eu amanheça mais feliz.
Talvez porque tudo isso represente o re-encontro: do eu com o nós.
Largar mão da órbita frouxa dos umbigos e viajar para a imensidão: aquela onde encontro o semelhante, seu mundo único, sua ótica. Fim dos muros de frio, vezes necessários.

Toda delícia de sentir uma aura totalmente nova ir tomando a gente de mansinho, gota a gota, sem se fazer notar e
de repente já transbordamos, bêbados da brisa fresca, tonta e leve que nos envolve.
Me lembra de ter paciência e calma (meus artigos mais raros). E me diz que há espaço para todas as coisas vastas. Todas as coisas.
Aponta o outro lado do rio, a outra página do livro, a ponte que liga um ponto ao outro.
Abundância de primavera: sentir na alma; responder na pele, trocar as roupas, visitar novos céus, escutar outros horizontes e o coração transbordar a imensidão da música: 9ª sinfonia de Beethoven .

Abençoada seja a tua chegada em mim.

Impossível não cantar esta:
"É primaveeeeeeeeeera, te amo
É primaveeeeeeeeeera, te amo, meu amor.
Trago essa rosa..."
:0)



sábado, 29 de agosto de 2009

Ando meio desligada

Nessa última semana levei um susto. Ia para o trabalho, desci um ponto antes para tomar café na padoca legal da esquina. Desci do ônibus, parei no farol (estava vermelho), ele abriu e eu avancei na frente dos carros. No meio do caminho, eu me dei conta da loucura e já era tarde, corri feito louca para o outro lado da avenida ouvindo buzinadas desaforadamente merecidas.
Chegue do outro lado lívida: hã? Que foi isso? Mãos trêmulas, coração acelerado.
Final do dia fiz a mesma coisa de novo.
Engraçado porque sou até meio medrosa para atravessar ruas em São Paulo. Tanta gente lelé da cuca...
Enfim: dois sustos no mesmo dia querem me dizer alguma coisa que agora me escapa.
Só ficou uma certeza: ou vaso ruim não quebra mesmo e eu sou um da porcelana mais chinfrim; ou meu anjo da guarda não faz nem hora de almoço pra tomar conta de mim.


Os moços. Eu confusa ou eles doidinhos?
Os moços. O que querem de mim? Não se sabe.
E eu: o que quero deles?

"tudo o que quer me dar é demais, é pesado, não há paz..."

Muros nossos de cada dia

Ela não me disse o que pensava. Ele me disse o que achou que ela devia ter feito, mas não disse a ela o que pensava. Ela pensou outra coisa que não disse. Falou de outro jeito o que pensou. Pensou melhor depois. Deveria ter dito?
Ele não pensou em nada. Falou o que entendeu, de um jeitinho polite.
Eu não entendia nada.
Ela falou o que lhe ditou a pressa. O medo fez ele responder de pronto. Ninguém pensou em nada. Só existia sede.
Ele apressou todo mundo. Todo mundo apavorado sofria em silêncio.
Um chope estalou gelado na gargante sufocada.
Ele não sabe o que ela pensa. Ela na ouve o que ele diz. Ela escuta? Ele percebe?
O muro está ali. Todo mundo subiu nele.
Escuta: tem alguém aí embaixo? Me tira daqui.

Saldo do dia

Diazinho de um sol adorável, céu azul, levantei cedinho para ver imóveis; e a caçada continua.
Achei que seria mais fácil, mas no fundo sabia que ia me custar muitas pernadas.
A busca é longa, vem de longe. Acho que desde quando saí da minha terrinha quente.
Hoje eu já encontrei um montão de coisas: pessoas diferentes, hábitos, luas, ruas, jeitos de falar, jeito de não falar, meu cachorrinho, outros bichos e bichanos que coloriram o meu caminho até aqui. E um terreno desconhecido que se avizinha.

Outro dia meu coaching me falou que eu devia não ter tanta ansiedade e aprender a curtir o tempo dessa busca.
Agora entendo que ele tem razão. O durante, sempre tão importante de entender.
Eu venho batendo na trave: acho o imóvel. ele é bom, agradável, cabe no bolso esgarçando bem, mas sempre tem um fulaninho conhecido de não sei quem que chegou na frente. Três casos. Mesmo final feliz: pra eles!
entendi o recado: estou quase lá. Só faltar deixar o peso, pegar a pipa, erguer o braços e soltar os nós.
Hoje pensei seriamente em voltar para as sessões de coaching :0) .

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Felicidade delivery


"Felicidade se encontra em horinhas de descuido"


Estava indo almoçar com o Rê. Lá na estação Ana Rosa, lembrei dessa frase do G. Rosa e do quanto ela representa pra mim. Era domingo, fazia um sol soteropolitano nesta terra da garoa, tive um papo-cabeça-filosófico-astronômico-apocalíptico antes de sair de casa, cabelinhos lavados e soltos à mercê de um vento preguiçoso e o coração era leve. O que poderia eu querer mais daquele bendito momento? Querer algo mais não combinava com um dia que já estava pronto para ser servido. Neste instante: o clarão. Olha aí a felicidade diante de mim: pura e simples, prontinha, delivery.

E o resto do dia foi dessa felicidade boba, rara, que só quem a testemunhou como eu pode entender. Aquela voz de menino aprendendo de si com o mundo ia ecoando, as árvores diziam "sim" com suas folhas e os olhos das gentes também. A música ecoada foi encontrando abrigo no coração, como um bálsamo, o único possível para um dia que já era perfeito. Um banquinho e um violão encheram de melodia o fim de tarde; simples assim, como a vida deve ser.

domingo, 26 de julho de 2009

O que eu acho




Hoje cedo eu meditei.
É... depois de muitos meses distante, parei para escutar mente e coração.
Foi necessário, foi grande. Entendi o momento. Este exato em que não quero terapia: sentar-falar de mim-ouvir-e -voltar pra casa pensando-sentar de novo e falar.

Institui a arte como analista. Quero trocar o divã pelo ateliê, e pode ser de qualquer coisa: pregar botão, cortar papel, fazer escultura, pintar parede, dançar o tcham (ai, o tcham não!).

Acho que isso se chama novo momento.
Eu sinto uma transição que não explico. É quase como atravessar um viaduto pela lateral: de um jeito meio abestalhado a gente vai andando, olhando todos lados, e seguindo em frente assim mesmo por osmose, entorpecida pelo barulho e movimento dos carros.

Acho que isso se chama lidar com o caos.
Não, não tem nada desabando. A fase é boa, mas apontando em todas as direções ao mesmo tempo que me sinto tonta.
Tonta feliz. Hehehe, sou eu!
Agora que derrubei as barreiras, estou meio bestificada com tanto horizonte e me pergunto: por onde eu andei durante todo esse tempo? Por onde me escondi? Que há tanto para fazer, ver, experimentar. E tenho sede.

Acho que isso se chama medo.
Mesmo torcendo o nariz, eu confesso que sinto. Me perdi lá dentro porque aqui fora dava frio na barriga. E queria colo. Poisé, agora eu entendo que um sonho acabou e a realidade não é dura, ela é apenas a realidade e pode ter a cor que eu escolher. E eu posso sonhar novos sonhos coloridos.

Acho que isso se chama amadurecer
Jogar fora o medo que paralisa. Caminhar contra o vento, outras vezes com ele. Falar o que deve, calar o que não acrescenta. Sentir. Sentar e conversar. Deixar ir embora o que já foi. Ouvir os outros. Ouvir a si mesmo. Ouvir as estrelas. Às vezes não querer nem ouvir. Acertar errando. Errar tentando acertar. Duvidar totalmente. Acreditar pero no mucho. Apostar tudo. Perder. Começar do zero. Ganhar estofo. Ir em frente. Olhar no espelho. Ver aquele calo no sapato como seu mestre. Perdoar. E, especialmente, agradecer por tudo o que me trouxe ao momento presente.

Acho que isso se chama crescer.
;0)


terça-feira, 2 de junho de 2009


Como uma onda

É, o mundo passa por transformações profundas neste momento.
Vivemos a era da perda de controle. Que medo! Que ótimo!
Como vamos conviver daqui para frente, vendo ruir aquele sisteminha que nos garantia alguma frágil segurança? Não temos respostas.
Lambadas pra cá, lambadas pra lá e assim vamos chegar nesse futuro que é hoje, o das incertezas e das surpresas.
Sinto o friozinho na barriga, muito mais de excitação que de medo. O novo é bem-vindo embora sempre sacuda a gente com o poder das ondas gigantes, que nos reviram do avesso e nos fazem ver tudo de um outro jeito. E só assim a gente muda: experimentando.
Vivemos no gerúndio: passando, atravessando, vivendo, em transição. Com uma sede danada de infinitivo, e tudo agora são incertezas.
Este é um momento que de nós quer alguma coisa. O quê?
Não sei eu, apenas sinto que o motivo escondido por trás de tudo isso é muito maior do que nós mesmos e nos obriga a ter calma (com+alma) para enfrentar o momento. Podemos sintonizar uma outra frequencia: a da entrega.
Talvez a lição de casa seja essa mesmo: deixar de lado os controles, as rédeas, a necessidade de resposta pronta e clara, de definições exatas. Aprender a viver de um outro jeito mais ilimitado e fluido nos assusta, tão familiares que nos são as fronteiras, mas nos lança em uma dimensão muito mais digna da nossa ilimitada possibilidade de criar e ressignificar a nossa própria existência.
Acredito que as ondas que aí estão passarão e nós, passarinhos, escolheremos em que nos segurar: nas bóias salva-vidas ou nas pranchas do permita-se.
O que você escolhe usar?



terça-feira, 26 de maio de 2009

eu preciso respirAR

Dias corridos
Mil e uma informações
Milhões de coisas para fazer
Um monte delas: na "lista de pendências", no "quando tiver tempo", no "final de semana", na caixa de entrada, no "mais para frente" ou no "deixa quieto".
Tudo pesando.
Minha cabeça pesa uma galáxia e estou desgovernadinha da silva.
É tudo para ontem e a gente precisa dar certo hoje para melhorar o amanhã. Afe!

Ando meio farta de tanta informação. Cansada mesmo de conteúdo. Livro, texto, e-mail, fala, som, papel, documentos, eurekas e tal. Careço de um pouquinho de ( e s p a ç o ) , para não ser brilhante, para não seduzir, para não ter respostas, mas aceitar as perguntas em silêncio, para não ter opinião formada e deixar que o destino leve a rédea com ele, de não olhar no espelho e ter de fazer escolhas. Queria um dia vazio, despretensioso, largo como o caminho de águas rolando cachoeira abaixo, como um vôo pássaro livre de roteiro, bobo como o riso frouxo que desponta quando a gente sabe ser bem mais simples que o normal.
Queria descer um tiquinho do mundo e descansar. Olhar lá de fora e ver o que faz realmente a grande diferença. Para que se corre tanto nesta vida, deus-do-céu?
Acho que estou carecendo de ar fresco onde eu não precise provar nada para ninguém, sequer para mim, especialmente para mim.
Preciso de tempo, de espaço, sou ariana, mas vivo o momento mais aquariano desses meus trinta e um carnavais, puxa vida!
Preciso de ar, espaço, vazio, oco, ausência.
Esse excesso de presenças e tantas multiplicidades me confundem.

Meu ritmo é outro, meu som é de outro instrumento, porque minha alma é de artista.
Aquela que não quer cobranças, que não curte prazos, que não azeda com atraso e não tem pensamento estratégico porque o barato é descobrir organicamente cada coisa. E pronto: hoje não quero fazer sentido. Sou filha dos meus hormônios todos em desalinho de novo. E haja florais para conter tanto ou descontrolar tudo e voar... como o passarinho que ainda hoje cedo eu invejava a caminho do metrô, lá ia eu em direção a mais uma reunião de quatro eternas horas rebuscadas e cheias de propósito e ele lá: colorindo o céu azulzinho, mergulhado em uma imensidão que só os vazios são capazes de desnudar.
Sim, eu preciso respirAr.


segunda-feira, 27 de abril de 2009

Pequenas sutilezas
Penso hoje em como a gente começa a se conceder pequenos direitos e a correr pequenos riscos depois de um certo tempo.
Devoto isso aos áridos momentos em que se cresce a fórceps, por absoluta falta de escolha.
Duvido que tenha quem opte livremente por sofrer para crescer. Não, não e não.
A gente cresce meio que sem aviso, fazendo sínteses meio tortas, meio sábias do que vai rolando e desenrolando pelas experiências mais marcantes.

Daí, passados os maiores atropelos e, por meio deles, estabelecidas as maiores curas, as tensões vão arrefecendo, o peito é mais leve e até o ar que se respira entra e sai mais mansamente. Isto se chama alívio.
Este é um estado de conforto na alma, sem preço. Duro de conquistar, mas valiosíssimo em receita e signifcado.

Por quê este papo todo agora?

Hoje, quando acessei o msn, estava lá no nick da minha irmã um trechinho de música que me fez rever tudo isso:

"I can see clearly now the rain is gone..."

Fui arremessada instantaneamente por essa frase no tempo de dor e medo e dúvida que eu vivi há menos de um ano e olho para mim agora e sinto alívio: passou. É! A dor, aquela mesma que doía, passou. E eu sou livre hoje.
Livre para errar outra vez, porque minha humanidade pede. Livre para tentar de novo, porque eu sou ariana e teimosa.
Livre para acertar agora, porque faz parte da minha natureza achar a saída dia menos dia. Livre para respirar sem aquele aperto rouco no fundo do peito. Livre para acordar e não te achar mais nos meus pensamentos.
Vida nova é quando a respiração sai de outro jeito.
Esta mesma que acabo de ofertar aos céus com toda pompa e circunstância. Recebam esse tanto de amor e gratidão por tudo que, de fato, fez valer o frete!
E agora a leveza é tamanha e a liberdade é tanta que as trilhas são o caminho fácil para a bricadeira: buscar para se perder. Besteira dizer que não tenho mais medo. Sim, os tenho, mas agora tenho poder sobre eles também. Só quem já mergulhou fundo nos descaminhos para se achar, tem o molejo suficiente para se lançar sem cordas, sem mapa, só com o cantil e a coragem.
"Vamos viver tudo o que há pra viver; vamos nos permitir".


terça-feira, 24 de março de 2009

Os enquantos
Enquanto o inverno não chega;

Enquanto o amor não vem;

Enquanto a comida está quente;

Enquanto o emprego não muda;

Enquanto o salário não aumenta;

Enquanto a criança não nasce;

Enquanto a gente cresce.

Enquanto isso, na sala de justiça...
a gente assiste a tudo com uma passividade insípida, como se visse novela.

Decretei que os meus enquantos serão vividos, ouvidos, tateados, mastigados, inspirados. Os enquantos é o tempo em que existo sem me preparar, onde as situações me assaltam como eu sou: cara lavada sem maquiagem. Assim me quero. Sem pensar antes, sem ensaiar nada, sem querer muito. Sendo, estando, atravessando, nesse gerúndio que balança a minha rede que espera sem acomodar, mas com a certeza de que este é um momento de gestação e, por isso mesmo, fértil, rico, produtivo. E saúdo o Domenico nesse instante; feliz sacada, meu bom; o ócio é criativo mesmo, multiplicai-vos!

E aqui vou eu: borboleteando pelos enquantos, misturo as cores e aromas dos dias, polinizo o futuro com as asas abertas, com vôos constantes para o comum das horas, sem muita filosofia ou quimeras; só de coração aberto, verdadeiro e cheio de significados mudos que, só lá na frente, eu poderei decifrar.

Por enquanto, eu apenas vivo.

Bons presentes

*Acabei de ler a Elegância do Ouriço e como essa leitura me deixou encantada! Uma percepção arguta, bem contruída e humorada de nós, humanos frágeis e fortes e em contrução.
Foi um presente quase sem-querer, pois não apostava nada no livro. Depois de ler, a gente sente vontade de ser melhor, mais elegante, mais leve diante da vida e seus pequenos-grandes presentes.
*A música tem um papel essencial na minha vida. Tradução de momentos, pessoas, sentimentos, costumo pensar a minha vida em trilha sonora sempre. Faz um poucos meses que conheci o trabalho da Mariene de Castro, baiana que faz samba de recôncava pra ninguém botar defeito. Voz mais que poderosa, encanta nos ritmos mais aceleradas, nas baladinhas, é lindo de ouvir e se deixar tocar.
*E os olhinhos do Eros, me olhando aqui do lado enquanto escrevo, todo cheio de devoção e dengo...isso me derrete. Este é um dos meus grandes presentes dessa vida: Olhar de oceano.


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009


Os Ipês

Minha relação com os ipês é de longa data.
Desde que vim morar em São Paulo, reparo muito neles, e os admiro. Seu brilho nos dias sombrios, seu balanço dengoso se estirando ao sol. Eles sempre estiverem no meu caminho de um jeito ou de outro. Ou, talvez, fosse eu que os perseguisse em busca de companhia.
Hoje, depois de alguns anos nos acostumando um ao outro, nossa relação é curiosamente divertida. Os ipês brilham para mim. É engraçado como consigo vê-los brilhar, dançar, quase sorrir. Eu sinto a felicidade nos ipês quando eles balançam soprados pelo vento.
Vejo suas asas multicoloridas, cintilantes, como se fizessem cócegas breves no céu carregado e o fizessem sorrir uma chuva boba que tira a seriedade da cara da gente.
Aliás, como andamos todos tão sérios pelas ruas dessa cidade, meu Deus.
Parece que carregamos um destino duro nas costas, implacável, que cava fendas nos rostos anônimos.
Acho que por isso resolvi ser amiga dos ipês. Porque eles estão sempre alegres, sorrindo, gratos pelo simples fato de existir.
Mesmo quando suas folhas e flores despencam, ainda assim eles são felizes e por isso busco suas lições mudas. Porque felicidade é um troço importante. Porque sem felicidade a vida é vazia. Porque eu tenho sede e é de significado, de múltiplos, embora simples.
Definitivamente ainda não sei ser simples, mas admiro aqueles que o são e de forma genuína, sem hipocrisias hostis.Talvez eu nunca venha a ser completamente, mas é hoje um desejo de futuro.
Presente mesmo é com os ipês: sorrindo colorido para um dia ensolarado ou cinzento, pouco importa. O que vale são as escolhas, as nossas, diárias, aquelas que nos possibilitam mudar o tom do discurso, o rumo da prosa, o final do dia, o calor da hora. O caminho.
Escolha antes de tudo por si mesmo, pelo fato de amar a si, como é: inteiro; raízes e copa; luz e sombra; certo e duvidoso. Nem um nem outro. Ambos. Igualmente importantes e necessários ao equillíbrio.
E na lição muda dos ipês eu me demoro. Na sua capacidade simples de conciliar o baixo e o alto, sem dúvidas abismais e com uma aceitação íntima, aquela que só se sente quando está em sintonia com O Algo que une todas as coisas no universo, que dá sentido ao nosso existir e que deve nutrir por todos os seres um amor gigantesco, pois que a tudo harmoniza, vitaliza e liberta, sem exigência sequer de que disso nos demos conta.
Os ipês me ensinam a ser grata por sua beleza, pelo belo que há em todas as coisas.

sábado, 17 de janeiro de 2009


Reflexões da TPM



Por que cargas d'água a gente sofre de tpm?

Sempre me perguntei sobre a inutilidade desse estado quase sempre muito lamentável pelo qual tantas mulheres, como eu, atravessam.
Hormônios em montanha-russa (será que pelo novo acordo ortográfico ainda se escreve assim?), emoções em ebulição. O mais certo é que a gente se transforma nos extremos de nós mesmas. É tantas vezes engraçado perceber que mora uma bruxa louca ou uma bonequinha de louça dentro da gente que até então parecem desconhecidas. Tem gente morando dentro da gente, que só sai uma vez por mês para dar trabalho e vexame. É isso? Aparentemente sim. Antes eu maldizia a danada da tpm. Depois de quase matar um namorado do coração e quase encher de sopapos um atendente de banco, optei pelos florais e homeopatias, o que resolveu por um bom tempo a questão e a meninas daqui de dentro adormeceram por meses a fio.

Hoje, sem meus frasquinhos mágicos, estou lidando com a tpm de modo diverso: choro quando tenho vontade (esses dias foi assistindo o programa da Angélica), faço umas barbaridades de vez em quando (como chorar na mesa da minha chefa ao dizer que não podia trabalhar no sábado, foi ridículo) e procuro manter distância de tudo que possa representar perigo, mesmo que nem sempre dê certo.


Hoje sei que é preciso respeitar este momento, com algum controle e observação, mas nossas emoções pedem passagem e elas querem dizer alguma coisa relevante, sempre.

O bom de tudo isso é que descobri que a tpm é um período de expurgos e limpeza: física quanto mental. Então, a natureza te obriga a recolher energias, ouvir mais e falar menos, agir menos e sentir mais, observar, aquietar. E é gostoso fazer esse movimento que é todo para dentro, para a casa, dar a volta e ver como andam as coisas no nosso quintal. As descobertas podem ser lindas e riquíssimas. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas a tpm é valiosa para mim, rica em possibilidades de encontro, desconstrução e repouso. Nessa onda em que subo no meu próprio altar e me sacrifico, morrendo, sangrando para renascer inteira novamente.

Estou feliz com a descoberta e no meu retiro estou assitindo pela primeira vez (sei que a Lidi vai ficar feliz com isso!) a coleção Star Wars inteirinha e curtindo cada cena (não sem uns cochilos, Lidi, desculpa).


Tudo bem bom e sob controle, embora as luzes do "perigo: produto inflamável" permaneçam acesas por via das dúvidas.