domingo, 24 de julho de 2011

Comum extraordinário

Hoje o dia amanheceu com sorriso.
Claro, vívido.
Hoje é dia especial travestido de comum.
Algo como feijão azuki com arroz arbóreo.
Tem sol como sempre e céu pra todo lado.
Tem folhas mestre-sala e flores porta-bandeira.
Tem adeus na janela, buzina de carro e prato na mesa.
Mas o dia de hoje traz um convite.
Para observar tudo o que é comunzinho, mas também essencial.
Por isso, hoje é dia de reconhecer brilho nos olhos e força nas linhas da vida na palma da mão.
Tem milagre no ar que não é do exótico ou arrebatador, mas do simples e morno. E igualmente raro.
Hoje tenho poucos olhos pra tanto céu espalhado
Pouco abraço pra tanto sol no horizonte
Poucas mãos pra tanta gratidão ao redor
E um único sentimento. Imenso, atento, vivo, cheio.
Somos tanto e tantos e únicos.
Belezura de vida assim: comum e extraordinária.

sábado, 9 de julho de 2011

Quando faz frio eu fico bem do avesso
como se o travesseiro estivesse dentro do corpo
Assim, perto do coração.
Daí eu fico lá deitada, tentando entender o que se passa, que barulho é aquele
que faz ritmo de tum-tum-tum enquanto cá fora faz frio, ventania e silêncio.

Quando faz frio tudo fica preto nos ternos e lãs das ruas.
As pessoas riem menos, cobrem mais e o adeus é mais pra sempre. Parece.
às vezes eu queria soprar o frio pra muito longe. Para depois das nuvens. E deixar ele lá. De molho.
Bem longe do coração da gente, das esperaças de um dia ensolarado e repleto de certezas.
Por que o frio rouba a nossa coragem?
E se instala bem no meio da nossa solidão, fazendo eco?

Quando faz frio a gente se fecha portas e janelas.
Mas, o corpo chama por carinho e sopa quente.

A coisa boa de quando o frio vem, é ver as flores. Disso eu gosto.
Vejo as cores mais intensas e isso me traz enorme aconchego.
Como se o céu tivesse dado a chance de haver coisas bonitas para se apreciar no meio do preto e cinza dos ternos e das lãs nas ruas.
Como se Deus deixasse a luz vasculhar o arco-íris e derramar lá de cima uma beleza que não faz barulho, que é simples, que combina com a gentileza do coração, que aqui dentro faz tum-tum-tum abafado pelas cobertas e pelo sono.
E a sua mão segurando a minha de repente deixa a minha alma mais quente.
E eu, do meu travesseiro, escuto um suspiro que não é de alívio. É de felicidade.